A Concabinagem e o Modelo dos Esforços
- traducaolivredc
- 28 de fev.
- 3 min de leitura

Hoje falaremos sobre os Concabinos. Eita, o que é isso? Antes de explicar, daremos um passo atrás.
Quando temos um evento com palestrantes internacionais, necessitamos da interpretação simultânea, amplamente conhecida como tradução simultânea. Aqui vale abrir um parêntese para esclarecer: tradução refere-se à transposição de material escrito de um idioma para outro, enquanto interpretação trata da conversão de algo falado (ou em língua de sinais) para outro idioma (ou língua de sinais).
Com isso resolvido, é importante destacar que intérpretes sempre trabalham em duplas.
Por que isso é necessário?
A conversão de um idioma para outro, enquanto alguém fala, é uma atividade que exige um esforço cognitivo imenso. Além de ouvir e falar ao mesmo tempo, o intérprete precisa decodificar o conteúdo no idioma de partida e recodificá-lo no idioma de chegada (ou em sinais), utilizando suas próprias palavras. Para tornar o trabalho ainda mais desafiador, o intérprete navega por áreas que podem não ser familiares, como reuniões corporativas, eventos médicos, negociações internacionais, discursos de chefes de Estado ou até mesmo programas de TV. É como desbravar mares revoltos!
Nesse processo, utilizamos intensamente nossa memória de curto prazo (para armazenar o que está sendo dito enquanto processamos a mensagem) e nossa memória de longo prazo (para acessar conhecimentos adquiridos ao longo da vida). Além disso, o intérprete precisa priorizar e reorganizar informações, já que interpretar não é repetir palavra por palavra, mas sim transmitir a mensagem de forma inteligível e adaptada ao público, que pode ter uma perspectiva cultural diferente daquela do idioma de partida.
Segundo o Modelo dos Esforços, de Daniel Gille (1978) essas variáveis se combinam da seguinte forma:
IS= A + M + P + C
Essa equação explica que o esforço total da interpretação simultânea (IS) é a soma do esforço de audição e análise (A), o esforço de produção (P) e o esforço da memória de curto prazo (M). O “C” representa as condições externas e os desafios que podem intensificar esses esforços.
Isso tudo sem contar os problemas que podem ocorrer, intensificando ainda mais esses esforços.
Quais desafios podem surgir?
Áudio ruim;
Falta de visibilidade do palestrante;
Material não disponibilizado previamente, dificultando a preparação;
Sotaques difíceis de compreender;
Textos lidos rapidamente sem prévio compartilhamento;
Problemas de conexão na interpretação remota (RSI).
Esses fatores aumentam a carga cognitiva, levando o intérprete ao limite. Estudos mostram que, após 30 minutos de trabalho contínuo, a qualidade da interpretação pode cair, resultando em omissões ou erros. Por isso, os intérpretes trabalham em duplas, alternando turnos com o colega, o concabino ou concabina – foco principal deste blog.
Como funciona a troca entre concabinos?
Os intérpretes combinam previamente a duração de cada turno (geralmente 15, 20 ou 30 minutos) e sinalizam ao colega quando a troca está próxima.
Interpretação presencial: Como ambos estão na mesma cabine, é mais fácil coordenar. O intérprete que está descansando avisa ao colega ativo que o tempo está acabando e se prepara para assumir. O colega sinaliza quando está pronto, e a transição ocorre rapidamente, por meio do painel da Central do Intérprete.
Interpretação remota (RSI): aqui a coordenação é mais complexa, já que cada intérprete pode estar em um local diferente. Utilizamos um backchannel (como WhatsApp ou Google Meet) para comunicação. Ele permite que o intérprete que não está ativo auxilie o colega, se necessário, ou acompanhe o trabalho para aprender e se inspirar. É fundamental também ter um aplicativo de mensagens aberto ao lado da plataforma de interpretação (Zoom, Webex, Teams, etc.) para resolver dúvidas ou passar informações rápidas.
Um cuidado extra no ambiente remoto é mutar o microfone (tanto na plataforma quanto no backchannel) para evitar interferências no áudio do evento ou do colega.
Durante o tempo de descanso, o concabino deve continuar atento à fala do palestrante para oferecer apoio imediato ao intérprete ativo. Apesar disso, o cérebro consegue relaxar o suficiente para se preparar para o próximo turno.
Dicas extras para intérpretes:
Mantenha-se hidratado e tenha sempre água à mão.
Prepare um glossário com termos relevantes e utilize ferramentas como dicionários, tradutores automáticos e motores de busca para apoio.
Não se esqueça de aquecer a voz antes do trabalho – ninguém quer ficar afônico e comprometer sua atuação profissional!
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